Homicídios crescem 260% no Norte do Brasil

Aumento da violência letal está associado à expansão do narcotráfico em conexão com crimes como garimpo ilegal e contrabando de animais 

Dragas de mineração ilegal são destruídas durante operação da Polícia Federal no rio Negro, em Manaus, em 2023
Michael Dantas / AFP via Getty Images
A violência explodiu no Norte do país nas últimas décadas. Entre 1980 e 2019, o número de homicídios na região cresceu 260%, mais do que o triplo da média nacional, que aumentou 85% no mesmo período. Os dados fazem parte do estudo "Dinâmicas da violência e da criminalidade na região Norte do Brasil", publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no ano passado. Lançado em 2025 também pelo Ipea, a nova edição do Atlas da violência mostra que essa porção do território brasileiro registrou uma taxa média de homicídios de 34,7 por 100 mil habitantes em 2023. O Amapá foi o estado com o patamar mais elevado (57,7) e três capitais da região (Macapá, Porto Velho e Palmas) tiveram os piores números de todo o país. As pesquisas apontam a atuação de facções criminosas, a expansão do garimpo ilegal, os conflitos fundiários e o enfraquecimento de políticas socioambientais como os principais fatores para explicar esse cenário.
Com foco específico na Amazônia Legal, território que compreende 772 cidades do Brasil e faz fronteira com sete países, a quarta edição do estudo "Cartografias da violência na Amazônia", divulgada em 2025 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em parceria com o Instituto Mãe Crioula (IMC), também captou aumento nos conflitos naquele território. De acordo com o documento, a taxa de violência letal na Amazônia Legal em 2024 foi de 27,3 por 100 mil habitantes, número 31% acima da média nacional. O levantamento indica que naquele ano 8 mil pessoas foram vítimas de mortes violentas intencionais na região, o que inclui homicídios dolosos, feminicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de óbito e falecimentos decorrentes de intervenção policial.
Ao analisar esse panorama, a cientista política Maria Paula Gomes dos Santos, do Ipea, explica que os conflitos no Norte do país são históricos e decorrem de disputas que se tornaram mais complexas com o passar dos anos. "No século XX, a região foi considerada um vazio demográfico por diferentes governos nacionais, pois não se levavam em conta as populações tradicionais nem os migrantes que chegaram em ondas diferentes e sucessivas. Entretanto, era tida também como a terra da superabundância, capaz de alavancar o desenvolvimento econômico brasileiro", pontua Santos, coordenadora da pesquisa do Ipea de 2024.
Como exemplo, ela menciona o ciclo da borracha ocorrido no final do século XIX, quando o país investiu em políticas para incentivar a extração de látex, matéria-prima para produção do insumo. Naquele momento, populações empobrecidas, especialmente do Nordeste, deslocaram-se para a Amazônia para trabalhar em condições precárias e com baixos salários. "Quando o mercado da borracha entrou em colapso entre 1912 e 1914, essas pessoas foram abandonadas à própria sorte e tiveram de buscar alternativas de subsistência. Em muitas situações, essas possibilidades envolviam a extração predatória de recursos da floresta", afirma a cientista política.

Fonte: Revista Pesquisa Fabesp

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