Amazônia sob ameaça do tráfico

Foto: Alberto César Araújo/ Amazônia Real (Armada Nacional da Colômbia no porto de Letícia)

16/03/2025, domingo

Avanço do narcotráfico, antes restrito às áreas urbanas das grandes cidades, está impondo um clima de medo e insegurança com impactos cultural e socioambiental sobre os territórios indígenas do Acre, Amazonas, Roraima e Rondônia, na Amazônia Ocidental. Esta parte da floresta, situada na fronteira do Brasil com países produtores de drogas como Bolívia, Colômbia e Peru, é hoje rota internacional do tráfico. Pesquisas recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Insper/FEA-USP reafirmam o que os indígenas já diziam: facções brasileiras como Comando Vermelho e PCC estão nos territórios, usando-os como corredores para escoar cocaína ou explorando ilegalmente minérios, madeira e pescado. A Amazônia Real ouviu relatos de indígenas sobre como é viver sob o domínio do narcotráfico. Os jovens estão sendo aliciados. Há territórios impactados pela expansão imobiliária, de compra e venda de terrenos pelo comando do narcotráfico, abertura de pistas clandestinas e derrubada de árvores para plantio de coca.


Tabatinga e Manaus (AM) – Nas paredes de uma escola abandonada, as siglas 'C.V.' riscadas com tinta são um aviso: o tráfico domina aqui. Em 2024, conforme apurado pela Amazônia Real, ao menos quatro jovens Tikuna foram assassinados por envolvimento com o tráfico de drogas na Terra Indígena (TI) Tukuna Umariaçu, em Tabatinga, no Alto Solimões. A violência não para por aí.
Um professor indígena Tikuna relata, com olhos marejados e titubeio na fala, que perdeu seu irmão para o suicídio após ele ter se tornado usuário de drogas. Outros dois alunos também se suicidaram, o que o educador atribui aos produtos ilícitos que os rodeiam e à falta de políticas públicas. "As nossas crianças esquecem a sala de aula. As drogas consumiram os alunos e eles estão diminuindo", desabafa.
"Meu irmão se envolveu com o consumo de droga, começou também a beber cachaça e foi ficando sem psicológico. Ele pegou e se enforcou, é assim que acontece com os nossos alunos por falta de segurança", relata o professor.
Conforme pontua, não há nenhum tipo de assistência psicológica permanente e eficaz na TI, sendo que, apenas em alguns momentos como após a morte dos jovens, servidores da saúde chegam a visitar os familiares para prestar apoio e depois não retornam mais. "Nossa área de saúde nunca fez reunião com os alunos, eles nunca dão orientação psicológica, a escola não tem assistência. Eu nunca vi eles fazendo uma reunião assim de conscientização", afirma.

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